Resgate o hábito de fazer nada

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Já falei aqui sobre cansaço, preguiça e ócio e hoje eu quero falar sobre a dificuldade que temos de resgatar o hábito de não fazer nada. Quando eu digo nada significa não ter um objetivo fixo ou algo ocupando sua mente, é deixar fluir.

Algumas pessoas pensam que uma vida organizada e produtiva tem a ver com eliminar esses momentos da rotina imaginando que eles são incompatíveis com o mundo acelerado que vivemos hoje. Mas é justamente o oposto. São momentos de não fazer nada que vão dar o que precisamos para focarmos no que é realmente importante nos outros blocos de tempo.

Eu coloquei resgatar no título porque na verdade a gente já vem equipado para isso de fábrica, digamos. Enquanto sociedade o fazer nada já foi sinônimo de criatividade, inteligência e status, mas ao longo dos anos ganhou ares de vagabundagem. O capitalismo e a revolução industrial tem muito a ver com isso, mas não quero me ater a culpados, quero pensar em possibilidades presentes e futuras.

Como podemos ficar mais tolerantes ao tédio? Como podemos abrir espaço e tempo na rotina para a contemplação e a atenção profunda? Como podemos revolucionar essa "sociedade do cansaço" na qual estamos inseridos?

Um livro interessante que fala sobre os impactos negativos do modo de vida acelerado em que estamos vivendo é o do Byung-Chul Han e eu fiz uma resenha dele lá no canal no youtube que eu super recomendo que você assista, coloquei ele aqui embaixo pra facilitar:


Outro livro que li algumas semanas atrás que pode nos ajudar a refletir sobre isso foi "Niksen, abraçando a arte holandesa de não fazer nada". Não sou muito fã de modinhas de bem-estar, mas achei que esse livro trouxe dados interessantes sobre a história do fazer nada e de como vários lugares do mundo possuem expressões bem particulares para designar esses momentos.

Ah, é bom lembrar que se distrair não é não fazer nada viu? Se distrair tem mais de fugir de pensar do que desse lugar de liberdade e contemplação que envolve o fazer nada. A ideia é diminuir o ritmo e se manter consciente, observando, mas sem um objetivo definido. Não é fácil, afinal estamos acostumados ao ritmo insano do mundo. Mas é possível e pode significar apenas intervalos curtos entre suas atividades ao longo do dia. Não se forçar a se concentrar em algo pode inclusive te ajudar a se concentrar em algo necessário depois. Mas fazer a pausa já pensando nisso pode não ajudar muito.

Pausas, autocuidado, divagação, coisas feitas sem pressão. Para conseguir isso, é importante deixar o celular e a tecnologia em geral de lado. Aqui as vezes eu aproveito o caminho andando para pegar minha filha pra isso, deixar a mente vagar pra onde quiser. De vez em quando também, entre uma atividade e outra pego o pote da calma que fiz com minha filha e fico só vendo as purpurinas coloridas se mexerem na água. Sem forçar a barra sabe? Só evitar aquele impulso automático de ocupar o tempo com alguma coisa por alguns minutos.

Outra coisa que ajuda é quando planejar a semana deixar um tempo livre entre uma atividade e outra, sem encher todos os minutos do dia com obrigações.

Você pode me dizer que é impossível dar conta das suas demandas e ainda ter tempo para não fazer nada. Mas eu tenho certeza que você pode tirar meia hora por dia das suas pelo menos 2h de redes sociais para isso, viu? Experimenta e vem me contar depois!

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