Distrações - o jeito é fugir?

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"Tenho andado distraído Impaciente e indeciso"
Quase sem querer - Legião Urbana

Quando eu nasci não existia internet. As pesquisas eram feitas na biblioteca em enciclopédias, a gente enviava cartas para os familiares distantes pelo correio. No elevador, a gente só tinha a opção de olhar os números dos andares passando, olhar para o chão, ou puxar um papo com quem estava dividindo o mesmo espaço.

Era uma outra relação com o tempo, outro ritmo. Vivenciávamos o tédio e volta e meia ficávamos observando o tempo passar, olhando para fora ou, melhor ainda, para dentro, envolvidos com nossos pensamentos. Mas esse não é um post saudosista, pode ficar tranquilo. Eu estou falando do passado para reforçar conceitos importantes e para que possamos refletir sobre o que vivemos hoje e como queremos viver o futuro.

Pensa comigo: no passado, para fugir do dia a dia a gente tirava férias ou, sei lá, se jogava no sofá e via TV. Era uma escolha consciente que demandava um certo esforço e planejamento (se você não estava feliz no trabalho por exemplo, para se distrair tinha que esperar chegar em casa ou inventar alguma outra coisa para fazer o tempo passar mais rápido). Isso tudo era distração, mas a gente sabia disso, sabia que a vontade surgia quando estava infeliz e se sentia encurralado com vontade de fugir.

Vamos analisar o significado da palavra distração? Distração é falta de concentração dos sentidos no que se passa a volta; desatenção. É desviar a sua atenção, sair do foco, diminuir a recepção da informação. É fuga, privação dos sentidos, falta de presença.

Hoje a gente continua se distraindo, só que muito mais e em vários momentos de maneira inconsciente. A tecnologia está tão presente em todos os lugares que a gente age sem pensar. Tédio? Celular. Sobrou tempo? Celular. Tem que esperar? Celular. Vergonha, timidez? Celular. Ou pior, ele nem sai da mão, a gente nem sai dele. 

O esforço agora é evitar a distração. É exercitar a presença e sair do entorpecimento das redes sociais e da internet na palma da mão. É voltar a lidar com o tédio e a frustração, é vivenciar o vazio, o silêncio. É reduzir o ritmo. Você ainda lembra como? Será que ainda consegue?

Não precisa jogar o celular fora, fazer um detox ou se mudar pra uma zona sem wifi (apesar de que tem uma galera seguindo nesse caminho). Você só precisa respirar fundo e se observar, observar as coisas a sua volta. Se imaginar como um detetive, um curioso, um espião do mundo. Se perguntar o que deseja, o que sente, o que gosta, se tá bom, se tá ruim, o que precisa, o que incomoda. 

A tecnologia tem evoluído tanto que os programas já estão sendo feitos para te manter neles, estimulado, feliz, nem que ilusoriamente. O objetivo é te distrair. Te vendem a distração como uma coisa boa, mas isso não é verdade. Só que é você quem manda, é você quem decide. É só lembrar disso. Você pode desinstalar aplicativos, pode silenciar as notificações, pode estabelecer limites, rever hábitos, instalar aplicativos que bloqueiem a conexão em momentos em que precisa de foco. 

Cabe a você mudar isso e despertar o olhar para o que há em volta. Bom mesmo é descansar, parar, respirar e curtir. 

"Já não me preocupo se eu não sei porque.
Às vezes o que eu vejo, quase ninguém vê."
Quase sem querer - Legião Urbana


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