Planejamento X Desejo

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Ultimamente tenho percebido que boa parte da dificuldade das pessoas em se planejar está relacionada com não saber lidar com os desejos e o que sai do plano. Como se planejar estivesse em uma ponta e o desejo na outra, dois extremos que não se encontram, numa polarização que, aliás, tem sido muito comum ultimamente. Mas, como tudo, existe um caminho do meio, e 50 (ou mais) tons intermediários, combinações entre os dois. E hoje eu quero falar um pouco mais sobre a relação entre planejamento e desejo e, principalmente, o que fazer para lidar de uma forma mais saudável e tranquila com os dois.

Quando eu penso em planejamento eu penso em estratégia que leva a ação e realização. É uma espécie de mapa do caminho, um auxilio, uma direção. Um guia que você estruturou previamente com base nos seus valores e princípios e num mergulho de autoconhecimento, identificando o que realmente importa para você na sua vida como um todo.

Eu tenho dito muito ultimamente na consultoria, para quem tem dificuldade com o planejamento, ou que encara o planejamento como algo que prende e engessa, que planejamento é, na verdade, uma trilha e não um trilho. Não me lembro onde eu escutei isso a primeira vez, mas adorei e nunca mais esqueci. O planejamento real deve ir se ajustando a sua realidade e não o contrário. 

O mais importante é a conexão consigo mesmo, sempre. É essa conexão que possibilita as escolhas conscientes e que gera comprometimento. Se o planejamento vira regra e gesso, perde o sentido. O objetivo dele é justamente dar foco enquanto possibilita o fluxo e a produtividade (no sentido pessoal de cada um).O compromisso deve existir, mas com você mesmo e não com o plano necessariamente. Se é com você, tudo bem mudar o plano.

De qualquer forma, é importante diferenciar o plano do desejo. O desejo tem a ver com uma vontade, as vezes até um capricho, uma expectativa e ansiedade. É aquela excitação que por si só te mantém, vivo, mas te faz olhar as vezes apenas para o futuro e pode gerar frustração se tente a te afastar da presença e conexão consigo mesmo. 

O desejo pode também ter a ver com uma necessidade momentânea focada unicamente em sensações do presente e pode mascarar os seus reais valores mais profundos. Satisfazer uma vontade de se entupir de doce, por exemplo, quando você no fundo quer ter uma vida mais saudável e prefere comer mais moderadamente. 

O desejo as vezes ilude. Por isso, o mais importante, repito, é a conexão. O desejo pode e deve estar presente, mas como pista, que a gente investiga e decide conscientemente se faz sentido seguir ou não. E aliás, um desejo também pode alimentar um plano.

O plano gera comprometimento, importante para a realização. O cuidado, porém, deve estar na expectativa...uma palavra perigosa. Expectativa demais pode gerar frustração e a dose certa é difícil prever. Prefiro associar o plano a determinação e compromisso com a realização, que tem mais a ver com um protagonismo seu, a responsabilidade, a ação.

Saber a hora certa de ajustar e corrigir um plano é onde está a chave para a realização no dia a dia. 
A verdade é que eu não sei exatamente onde está esse ponto de ajuste em você. O que eu sei é que passa por uma combinação de todas essas coisas: desejo, comprometimento, valores, plano, ação.

O objetivo de fazer planos deve ter mais a ver com ajudar o cérebro a se esforçar menos. Se já existe um caminho previamente definido por você, ele pode relaxar. Basta focar na realização. 

E quando vem aquele desejo de fazer algo diferente do plano, o melhor é sempre se perguntar de onde ele vem. Se é uma fuga ou procrastinação para encarar o que realmente precisa ser feito, ou se é um pedido interno de auto-cuidado e de priorizar coisas igualmente importantes e oportunidades que surgiram depois. O inesperado, afinal, pode ser bom, se conseguirmos olhar para ele positivamente. 

Se você planejou fazer X e algo te diz que é melhor não fazer, escute. Mas não cegamente. Desconfie, se aprofunde, questione, decidindo conscientemente o melhor caminho. Pense nos impactos e no que será necessário alterar no plano para encaixar esse desejo e aguentar as consequências. Se essa análise te conduz a alterar o plano, vá fundo. Ajuste o rumo e siga em frente. 


No fim das contas, planejamento e desejo devem caminhar juntos em prol do seu bem-estar, sem deixar que o excesso de um ou de outro estrague tudo. 

O seu bem-estar afinal é o que realmente importa.

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