Organização e Acessibilidade

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Eu falo aqui sempre que eu quero espalhar a organização por aí, mas as vezes me esbarro em algumas questões que dificultam a entrada da organização na vida das pessoas. Ou, pelo menos, dificultam a minha atuação como profissional de organização e produtividade. Uma dessas barreiras costumava ser o atendimento a pessoas com deficiência. Isso até conhecer o trabalho da Lívia no projeto "Organizando os sentidos".

Nesse projeto lindo a Lívia espalha a organização de ambientes para as pessoas com deficiência visual com muito carinho e resultados maravilhosos. Eu bati um papo com a Livia e convidei ela a escrever comigo esse post aqui no blog contando um pouquinho como a organização pode ajudar na questão da acessibilidade.

Bem, antes de mais nada, segundo a Lívia, é importante entender a pessoa. Afinal, a organização deve atender a necessidade e se adaptar a realidade de cada indivíduo (com deficiência ou não, vale ressaltar). No caso da pessoa com deficiência, é importante saber informações como: se a pessoa tem baixa visão, se ela nasceu com a deficiencia ou se ficou cega. A Lívia percebeu o seguinte: "as pessoas que nasceram com a deficiencia visual são mais abertas as adaptações que a organização traz, enquanto quem perdeu a visão tem mais dificuldade de se expor ao novo." 

Faz todo sentido, não é verdade? Afinal a organização vem como um apoio, um ganho direto. Já quando a pessoa não nasceu dessa forma, qualquer mudança pode ser vista como um risco. A Lívia percebeu que "para aqueles que perderam a visão a pouco tempo, podemos comparar, por exemplo, com fazer uma organização para uma pessoa de luto, ela não perdeu uma pessoa mas perdeu um sentido e leva mais tempo para que o indivíduo se sinta seguro para alterar o mundo ao qual ele estava acostumado."

Com isso, podemos ver o quanto a previsibilidade pode ser importante. Saber onde encontrar o que precisa do jeitinho que precisa. E a organização através da padronização, setorização e identificação contribui nisso diretamente. "O que precisamos avaliar em todos os casos é o que a pessoa tem mais facilidade para usarmos como ferramenta de identificação" diz a Lívia.

Veja algumas opções de identificação disponíveis:
  • Braile: para quem tem facilidade, as etiquetas feitas com uma etiquetadora específica, ajudam muito. "É lindo ver o processo de leitura que o dedo faz. Um balé lindo de ver, e a expressão no rosto da pessoa quando identifica e localiza o objeto organizado. Faz todo trabalho valer a pena" se emociona Lívia.
  • Texturas: para pessoas que possuem dificuldade com o Braile, podemos fazemos uso de texturas como fonte de identificação e setorização, miçangas, feltro, lixa e até miniatura de roupas em madeira MDF são usadas como etiquetas. "Esse último recurso usamos com a Vitória. Por ter problemas cognitivos, além da deficiencia visual, usamos essas miniaturas em MDF para ajuda-lá a reconhecer e gravar a posição das roupas. Me emociono ao lembrar dela sorrindo e falando cada peça que pegava" conta Lívia com carinho.
  • Código QR: é a tecnologia ajudando na inclusão. Lívia está apaixonada por essa alternativa que passou a utilizar nos projetos recentemente: "usando esse código tridimensional, aliado a voice overdose ou talk back, do módulo acessibilidade do celular, permite a leitura do objeto organizado. Usamos na organização de documentos para o Marcello, último participante do projeto. Percebemos que esse tipo de etiqueta serve para as crianças que ainda não sabem ler, mas que já usam bem o celular ou para analfabetos. Mais que etiquetas para deficientes visuais, uma etiqueta inclusiva."
Falando em tecnologia, a Lívia sinaliza que ainda existe muito a ser explorado. O be my eyes, que funciona como um voluntário virtual para auxiliar as pessoas com deficiencia visual é, segundo ela, o melhor recurso.  Ela comentou também sobre o que cor, que ajuda a identificar a cor da roupa ou do objeto que vc quer usar. 

A Lívia tambem ajudar as pessoas que se preparam para perder a visão. "Para essas pessoas tentamos usar todos os recursos possíveis para que ele escolha qual método é mais eficaz. Usamos até a aromaterapia como recurso de setorização do ambiente." Quando a Lívia me contou isso a primeira vez achei sensacional. Ter um cheiro para cada espaço, imagina...lavanda para o banheiro, eucalipto para a sala...ou o que você gostar mais para conseguir identificar os espaços. Casa cheirosa e inclusiva.

Sempre fico empolgada escutando a Lívia falar sobre esse assunto e fico querendo saber mais sobre ferramentas de apoio a acessibilidade e inclusão, é então que ela me diz o seguinte: "O que mais me surpreendeu no começo foi perceber que uma simples conversa pode ser uma poderosa ferramenta de organização. Lembro que fiquei tão ansiosa pra pôr a mão na massa que não me dei conta disso, até uma mãe me dizer o quanto estava aliviada por poder conversar com alguém sem se sentir culpada por admitir estar cansada. Isso me fez lembrar que a organização começa na mente.

Uau, massa né? Realmente, as vezes conversar e desabafar faz a gente organizar melhor as ideias. Não é a toa que sair com os amigos e uma boa sessão de terapia fazem verdadeiros milagres nesse sentido.

Para encerrar, um recado da Lívia para profissionais de organização interessados nesse mercado: "Já ouvi muita gente me perguntando como essas pessoas entram em contato conosco. Muitas vezes é o familiar que vai ver o seu trabalho e te contratar, por se sentir mais seguro de ter um profissional especializado para atender sua necessidade. É preciso, no entanto, se preparar para essa demanda. É importante que tenhamos um olhar inclusivo e acessível. O projeto organizando os sentidos é mais que um projeto social, ele é uma grande fonte de pesquisa para entendermos o impacto da organização na vida de pessoas com deficiência. E como podemos trabalhar para que o mundo seja verdadeiramente inclusivo e que a organização seja efetivamente para todos."

Bom, segundo dados do IBGE, 45,6 milhões de pessoas no Brasil tem algum tipo de deficiência, mas a verdade é que poucos serviços e espaços estão adaptados para promover a inclusão. E olha que estamos falando de um país com uma diversidade enorme. Nosso convite nesse post é para que todos possam refletir e usar a criatividade e a organização como ferramentas de inclusão, promovendo a acessibilidade. Veja a diferença que a organização pode fazer no vídeo abaixo:



Aproveito para agradecer imensamente a Lívia por colaborar com esse post e compartilhar aqui seu lindo trabalho. É emocionante ver alguém que se dedica e é tão apaixonada assim pelo que faz, não é? Tenho certeza que vocês puderam perceber isso lendo as palavras dela. Para conhecer mais o trabalho da Lívia: www.liviaorganizer.com.br (ou no instagram em: @liviaorganizer ou @conceitoorganizer).
 

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