Polêmicas e Ordem na casa

05:00


Hoje eu vim falar sobre a nova série do Netflix que tá bombando na internet: Ordem na casa. Nela, a Marie Kondo, considerada guru mundial e best seller da organização, ajuda algumas famílias a , como o nome diz, colocar ordem na casa.

Primeira coisa que preciso dizer é que é massa ver a organização recebendo lugar de destaque na Netflix. Isso por si só já valeu pra mim, afinal, meu maior objetivo com a Avesso é espalhar a organização por aí. E não poderia ser melhor...ou poderia?!

Andei lendo algumas matérias por aí e alguns comentários de outros profissionais e resolvi listar as principais polêmicas, comentando um pouco o que eu achei sobre o assunto. Sem mimimi, reflexão sincera mesmo, dá uma olhada:

A responsabilidade da organização da casa é de quem vive nela.

No Brasil a maior parte dos profissionais de organização residencial atual de maneira diferente: o cliente contrata, o profissional faz todo o trabalho, sem que o cliente se envolva. Falta de tempo, falta de vontade, enfim, eu nunca entendi muito bem, confesso. Eu vejo a organização (qualquer que seja) como um processo de autoconhecimento muito forte, a ponto de ser um desperdício imenso delegar esse processo para outra pessoa ainda que seja um profissional super experiente. Eu sei, não dá pra ser cri cri, boa parte do trabalho pode sim ser feita pelo profissional, mas o maior benefício da contratação do profissional é aprender sobre esse olhar para seus objetos, sobre a lógica personalizada que vai te ajudar a ter uma vida mais prática. Já tem muito profissional atuando diferente, tentando puxar dos clientes essa conscientização a respeito do processo de organização dos objetos e espaços, atuando mais como consultores e auxiliares, como a Marie faz nos episódios.

A baixa participação dos homens nas tarefas da casa evidenciada pela série.

É, em todos os casais heterossexuais que apareceram na série a mulher encontra-se sobrecarregada com a desorganização da casa, que recai sob sua responsabilidade quase que exclusivamente. É um reflexo da nossa sociedade historicamente machista. Reclamaram também dela ter colocado as mulheres para organizar a cozinha enquanto os homens viam a garagem. Talvez pudesse ter sido melhor explorada essa questão do compartilhamento de responsabilidades, mas o objetivo da série não era alterar o padrão das famílias, apenas mostrar o potencial da organização como ferramenta de bem estar. O profissional de organização não deve se meter em dizer como deve ser o funcionamento da casa, apenas deve procurar saber de quem é a responsabilidade ou quem lida mais com o cômodo em questão e trabalhar com essa pessoa. Não cabe a ela discutir se deveria ser diferente, é uma questão de conduta profissional. Em alguns casos inclusive, proativamente, os caras se tocaram, curtiram o movimento e mudaram seu jeito de encarar a casa, as tarefas e os objetos, o que eu acho excelente, aliás, pessoalmente, como exemplo de que esse estigma não faz muito sentido. Acho que a reflexão sempre vale, mas não é responsabilidade da série ou de um profissional resolver todos os problemas da humanidade, ok? 


O resultado da organização nos episódios não é perfeito.

As dobras não ficam mesmo maravilhosas, padronizadas, dispostas com perfeição. Algumas dicas são bem feiosas (tipo uma bolsa dentro da outra e rolinhos mal acabados), mas quer saber o que eu acho? Acho que é vida real! Organização raiz! Na prática, no dia a dia, não dá muito pra ficar buscando essa riqueza detalhista da técnica de organização. O que importa é a transformação. E isso acontece bastante na série. Não fica perfeito, mas perfeição não existe mesmo, fica real e muito melhor do que era antes.

A Marie é tão calma e alegre que chega a ser irritante.

Ela é japonesa minha gente. Existe uma diferença cultural gigante. Eu acho rico ver o mundo pelos olhos da Marie. A relação com a casa e com os objetos é diferente e soa um tanto estranha mesmo pra gente. Saudar a casa, acordar os livros, sentir alegria, agradecer aos objetos. O jeitinho contido, a postura, a voz calma e baixa. Confesso que eu não contrataria ela para me ajudar a lidar com minha casa se estivesse com essa necessidade, não rolaria muita conexão comigo. Mas não acho que isso desabona ela ou a série. Cada um com seu jeitinho se conecta com sua galera e essa é a beleza de qualquer mercado com oferta de profissionais.

O que não tem discussão, me desculpem os revoltados de plantão, é a revolução e transformação que ela leva para a vida das pessoas. O cuidado, o carinho, o respeito. Ver o engajamento das famílias no processo é super legal e motivante. O que eu mais curti foi que eu finalmente vi um processo profundo de transformação além da técnica

Eu sempre critiquei muito a Marie e a metodologia dela (e nem sempre fui bem recebida por conta disso, já viu minha resenha sobre o livro dela aqui no blog?), mas na série eu consegui ver finalmente que toda essa rigidez e exagero escondem um método para forçar o contato das pessoas com seus objetos e promover o aprendizado da priorização, escolha e desapego, evoluindo aos poucos, a cada categoria organizada. Como disse a Thais Godinho em um post sobre o que ela achou, o livro best seller não é tão empático quanto a série conseguiu ser.

Ficar com o que te faz feliz vira então um processo profundo de autoconhecimento que fica visível nas histórias da série. E isso faz toda a diferença nas vidas das pessoas. 

Coloca ordem na casa por aí também e lembra que cada caso é um caso, cada pessoa é uma pessoa e cada casa é uma casa! Boa diversão!

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12 comentários

  1. Muito bom, gostei.O q importa é q ela envolve a família toda nesse processo.O perfeccionista não é o essencial, traz para a realidade e coinciencia q o consumismo é desnecessário.

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    1. Muito importante mesmo todos na casa se envolverem né? E viva a organização e a consciência! ;) Bjo grande!

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  2. Muito boas colocações!!! Comungo com tuas ideias, principalmente quando você diz quando Marie não seria a profissional que me traz conexão para trabalhar em minha casa... É ela calma demaaaaaais pra mim. Mas é indiscutível o trabalho dela. Ainda não li seus livros, mas gostei demais de sua série!!!

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    1. Obrigada pelo carinho! Pois é...essa é a beleza do mundo...ser diverso e possibilitar espaço pra todo mundo se conectar por aí como quiser! ;)
      Leia...o primeiro eu não gostei muito, mas dizem que o segundo é bem melhor, mais na linha da série. Bjo grande e vem sempre aqui ver as novidades...

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  3. Perfeito, Alice, querida! Para além de técnicas e perfeição, o ponto nevrálgico é a transformação interna, partindo do estabelecimento de uma nova relação com a casa e com os objetos nela existentes, bem como o envolvimento de todos os moradores

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    1. Obrigada, querida! Viva a Organização e as transformações que ela possibilita! ;)

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  4. Sou fã da Marie Kondo. O seu jeito calmo e carinhoso com tudo e todos pra mim são grandes qualidades...

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  5. Já assisti alguns episódios, particularmente acho certo as pessoas serem envolvidas diretamente na organização, afinal são elas que terão que manter a casa em ordem. Concordo que as dobras perfeitas não ao mais importante e sim a organização funcional e de acordo com a logística e necessidade de cada um. Afinal a casa tem vida e manter tudo igual fotos das revistas, não é a realidade da maioria.

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    1. Pois é, são bons pontos né? Fico feliz que tenha gostado! Bjo grande e continua acompanhando por aqui.

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  6. Ótimo resumo Alice, realmente levar essa conscientização para todos da família é essencial. Ela tem uns por menores que sempre abre os nossos olhos, aprendendo sempre👏👏👏

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