E daí se você ficar por fora?

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Você tem medo de ficar por fora? Não saber o que está rolando, não ser "in", não conseguir ir a todos os cursos, eventos, shows e nem ler todos os livros, sites, feeds. Se você respondeu que sim, você não está sozinho. Existe até um termo para isso: Porforofobia

Porforofobia é o medo de ficar por fora. Este conceito surgiu do termo FOMO – Fear of Missing Out e é usado no sentido de temer estar por fora do que está acontecendo no meio virtual. Mudam-se os tempos e os medos e traumas vão se adaptando. Mas se você parar pra pensar, esse medo de ficar de fora sempre existiu.

É humano querer fazer parte, pertencer. Não sei você, mas eu tô sempre criando grupos. O grupo da faculdade, do colégio, do pilates, do trabalho, da familia...criar grupos é fácil, dificil é permanecer nos grupos. Ou pelo menos é isso que a gente se ilude achando. A gente reduz o pertencimento ao fato de termos que nos identificar com tudo o que todos no grupo se identificam. E a beleza dos grupos na verdade é justamente unir as diferenças. 

Vou voltar nisso mais na frente. Mas antes quero chamar atenção para o fato de que a internet e as redes sociais só fez intensificar o que na verdade sempre existiu. O volume imenso de informações compartilhadas ao alcance de um clique torna impossível estar por dentro de tudo, seja em que grupo for. E esse desejo por novidade vai gerando dependência e vai estimulando um jogo louco da mídia de produzir ainda mais informação de procedência cada vez mais duvidosa e de pouquissima relevância.  E como a gente sai disso?

Antes de tentar responder a essa pergunta eu quero te fazer uma outra pergunta. Se Porforofobia é o medo de estar por fora, você já parou pra pensar o que é o dentro? O que é estar dentro? O que tem dentro? Gente que sabe tudo o que ta acontecendo no mundo ao mesmo tempo agora? Me lembra mais os personagens da série de ficção Sense 8 do Netflix do que gente de verdade.

E eu, particularmente, não quero estar cercada de gente que está "por dentro" nesse sentido. Eu quero estar cercada de gente que está por dentro de si mesmo. Gente Autêntica, gente de verdade. Por fora ou por dentro. Tudo bem ficar por fora, afinal.

Você não vai mesmo conseguir ficar por dentro de tudo. É humanamente impossivel. Buscar isso é perda de tempo, é desconexão do que é realmente importante e conexão ilusória com muito de maneira superficial. Só gera ansiedade. 

E quem é que diz o que é fora e o que é dentro? E como a gente sai desse circulo vicioso? Eu acho que a gente pode começar escolhendo o que consumimos a partir do que é importante pra gente e está dentro das nossas limitações. Por exemplo, eu gosto de ler sobre produtividade. Mas sei que não vou conseguir ler tudo que existe no mundo sobre esse tema, então eu vou fazendo pesquisas para definir minha próxima leitura. E vou planejando o que consumo, um livro por vez. Já percebi também que preciso variar o cardápio de livros de vez em quando pra não cansar, então vou incluindo outros livros que vão me chamando atenção pelo caminho. Isso é me perceber, é reconhecer meus limites e desejos e então priorizar. Isso é ser produtivo. Ficar numa neurose querendo ler tudo que existe e abrir mão de outras coisas que são importantes pra mim é, no mínimo, burrice.

E é aí que entra uma coisa chamada Autenticidade. Tão rara e tão bonita. Rosava Hermann deu uma palestra sobre porforofobia em um evento sobre internet e falou uma frase que gostei muito:

"O seu maior patrimônio é ser você mesmo". 

Não deveria ser tão difícil perceber e assumir isso. 

Eu vejo muita gente reclamando que são muitos cursos, muitos livros, muitos eventos e muita informação, comparando com o pouco tempo que temos para consumir tudo isso. Sinceramente? Não tem que reclamar, tem que achar bom. Que bom que tem tanta coisa disponível no mundo! Mas sabe porque a gente acaba achando ruim? Porque toda essa informação nos força a ter que escolher, priorizar. E a gente não quer fazer isso. A gente não quer mergulhar em si mesmo para descobrir o que de fato importa. A gente prefere fórmulas prontas, prefere reduzir as escolhas, ter poucas opções. 

Te convido a mudar o ponto de vista e exercitar o seu poder de escolha. Que tal dar importância apenas para o que é importante para você? Te convido a ficar "por fora"! Fora do que é imposto por aí. E ao mesmo tempo, te convido a um mergulho pra dentro. Dentro de sí mesmo, se relacionando com o mundo com autenticidade. 

Pense comigo: se cada um ficar muito bom no que é realmente importante e interessante sob seu ponto de vista, se relacionar com o mundo de maneira autêntica e se propuser a se conectar com quem é diferente, não vai ser necessário ficar por dentro de tudo sozinho. Você com certeza vai conhecer alguém que vai poder te dar o caminho das pedras no dia que algo que não está no seu repertório se tornar importante. 


Pensando dessa forma quem está no controle é você. E daí, pouco importa se você está por dentro ou por fora.

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